17 de Setembro de 2024
A fala de uma criança com fissura labiopalatina (FLP) pode ser significativamente afetada, tornando a comunicação difícil e, às vezes, ininteligível²⁸. Para tratar essa condição, recomenda-se a realização de cirurgias específicas em dois momentos: a queiloplastia a partir de 3 meses de idade para corrigir o lábio e a palatoplastia a partir de 12 meses para reparar o palato²⁹.
Após essas cirurgias, seguir as orientações do cirurgião é fundamental para garantir uma boa recuperação. Na queiloplastia, os pontos geralmente são removidos entre 7 e 10 dias após a cirurgia. Já na palatoplastia, os pontos e tampões caem naturalmente entre o 20º e 30º dia, sem necessidade de intervenção adicional. Nos dois tipos de cirurgia, é importante evitar a exposição direta ao sol por seis meses após a cirurgia e usar protetor solar para proteger a área cicatrizada³⁰.
A reabilitação pós-cirúrgica de pacientes com fissura labiopalatina deve adotar uma abordagem interdisciplinar, considerando não apenas a recuperação física, mas também os aspectos psicológicos e sociais do paciente. Essa abordagem visa oferecer um cuidado integral, promovendo tanto a funcionalidade quanto o bem-estar emocional e social dos indivíduos afetados ²⁹. Veja abaixo alguns cuidados necessários:
Amamentação e o uso de utensílios
Pais/responsáveis, familiares e a comunidade científica estão sempre preocupados em encontrar a melhor técnica para alimentar a criança no período pós-operatório. Essa preocupação é constante e visa garantir a segurança e o bem-estar das crianças durante a recuperação. A escolha cuidadosa da técnica de alimentação não apenas promove a adequada nutrição e hidratação da criança, mas também desempenha um papel importante na prevenção de complicações e no apoio ao processo de cicatrização. A colaboração entre cuidadores e profissionais de saúde é fundamental para adaptar as práticas de alimentação às necessidades individuais de cada criança, assegurando assim uma recuperação tranquila e eficaz após o procedimento cirúrgico²⁹.
A amamentação é considerada adequada para crianças com fissura labiopalatina antes da cirurgia, especialmente em casos de fissura pré-forame isolada, que geralmente apresentam melhores resultados. No pós-operatório da palatoplastia, há divergências sobre qual método de alimentação é mais adequado, variando desde a suspensão total da alimentação oral por pelo menos 24 horas até o uso livre de métodos de sucção³¹.
Lembrem-se de que o aleitamento materno deve ser sempre incentivado, mas no pós-operatório imediato de palatoplastia para proteger a incisão cirúrgica o cirurgião precisa avaliar a alimentação por meio da amamentação. Segundo o protocolo do hospital de referência em reabilitação de crianças com fissura palatina, o HRAC/Centrinho (Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo - USP), o uso de mamadeira, bicos, canudos e seringa são desaconselhados no pós cirúrgico. Já a amamentação direta ao seio, deve ser sempre estimulada, mas após a palatoplastia alguns cirurgiões não indicam por pelo menos os próximos 30 dias. A fim de evitar traumas e garantir uma boa cicatrização, métodos alternativos como o uso de copo e colher são os mais recomendados nesse período. Esses métodos são simples, práticos, de baixo custo e apresentam menor risco de contaminação, facilitando a alimentação segura da criança ²⁹’³³.
A técnica que utiliza a colher demonstrou ser mais eficaz em reduzir o escape de alimento pelos cantos da boca, diminuir esforço na sucção evitando o gasto energético e assim ganhar peso, permitindo também a aceitação de volumes maiores. Isso se deve ao fracionamento da alimentação em pequenas quantidades, facilitando a ingestão e minimizando os escapes. Além disso, crianças submetidas à palatoplastia total, podem apresentar menos episódios de tosse durante a alimentação quando utilizaram a colher. A dor resultante da cirurgia pode limitar a capacidade da criança de aceitar alimentos, levando-a a dificuldade em engolir, o que pode causar o reflexo de tosse²⁹.
Posição para se alimentar
O aleitamento materno é essencial para crianças com fissuras de lábio e/ou palato, pois desempenha um papel vital na maturação e no crescimento adequado do crânio e da face, abrangendo aspectos ósseos, musculares e funcionais. Além disso, a amamentação contribui para a prevenção de problemas bucais, como cáries, doenças periodontais e problemas de crescimento dentário, por isso o aleitamento é ainda mais importante para a saúde bucal em geral³⁴. O aleitamento materno é fundamental, pois não só fortalece o vínculo emocional entre mãe e filho, mas também previne infecções, reduz a mortalidade infantil, e evita a respiração bucal e hábitos prejudiciais à saúde oral. Crianças que desenvolvem hábitos bucais prejudiciais geralmente foram amamentadas por um período menor³⁵.
Portanto, não há evidência científica de qual a melhor posição para a amamentação desde que a posição ajuda a evitar que o leite entre na cavidade nasal e reduz o risco de aspiração pode ser a convencional (com o bebê semi-sentado), invertida (por dentro do braço da mãe) e cavalinho (com o bebê sentado no colo de frente para o seio da mãe) são algumas opções. A escolha da posição ideal dependerá do conforto entre mãe e o bebê, além de promover uma alimentação funcional e eficaz, enfatizando o aconchego maternal que é fundamental mesmo que a alimentação seja por meio de utensílios. Os pais, se preferirem a posição tradicional, podem segurar o bebé num ângulo de 45 graus, apoiando a cabeça eo pescoço para facilitar uma melhor deglutição e reduzir os riscos de refluxo, sempre com pausas entre uma amamentação e outra para que haja a eructação, o arroto³⁶.
A posição inadequada do bebê durante a amamentação pode aumentar o risco de otite média, uma infecção na orelha média causada pelo acúmulo de líquido que se desloca da cavidade nasal até a tuba auditiva. Esse acúmulo facilita a entrada de bactérias, resultando em infecções que podem causar perda auditiva a qual é um problema de saúde pública mundial, especialmente em crianças com fissura labiopalatina. Nessas crianças, a função da tuba auditiva é comprometida, o que contribui para o aumento dos casos de otite média e recorrência das infecções. Durante um estudo foi revelado uma alta prevalência de perda auditiva e surdez em casos de otite média recorrente, por isso qualquer dúvida sobre qual a melhor posição, pode buscar orientação na unidade básica de saúde mais próxima da sua residência³⁸.
A presença de otite média durante a infância pode ter um impacto significativo no desenvolvimento auditivo e na percepção da fala em crianças com fissura labiopalatina. Estudos relatados em artigos científicos indicam que essa população, independentemente do histórico de otite, apresenta dificuldades consideráveis em testes auditivos. No entanto, a otite média agrava essa situação, aumentando as chances de problemas auditivos e de linguagem. Por isso, é essencial que o processamento auditivo seja avaliado em todas as crianças com FLP, não apenas naquelas com histórico de otite. Essa abordagem ampla permitirá um trabalho de reabilitação mais completo, ajudando a minimizar os efeitos dessas dificuldades auditivas no desenvolvimento da linguagem e no desempenho escolar das crianças³⁹.
Dieta
Antes da cirurgia, a criança precisa estar dentro do peso ideal para sua idade para a realização do procedimento cirúrgico. Após a cirurgia, é recomendável iniciar com uma dieta líquida, a depender da avaliação da equipe multidisciplinar com a nutricionista, que pode ser leite materno, fórmula, sucos, sopas e ou alimentos pastosos, desde que mornos ou em temperatura ambiente. Evitar alguns alimentos com pedaços ou texturas que possam interferir na área cirúrgica é crucial para o processo de cicatrização. Enfatiza-se que a primeira alimentação após a cirurgia é apenas quando o efeito da anestesia passar e quando a criança estiver alerta. Após a alimentação, é necessário a limpeza da região para que não haja proliferação de bactéria na região, seguir de acordo com o próximo tópico higiene oral³⁷.
Higiene oral na queiloplastia
Certifique-se de lavar as mãos com água limpa e sabão antes de cuidar do lábio da criança. Pingue soro fisiológico 0,9% nas narinas várias vezes ao dia. Limpe delicadamente os pontos três vezes ao dia usando cotonetes ou gaze umedecida em soro fisiológico 0,9%, água fervida fria ou água filtrada, fazendo movimentos circulares levemente³². Lembre-se sempre de que é necessário segurar os braços da criança. Veja no vídeo abaixo como realizar a limpeza pós cirurgia.
Higiene oral na palatoplastia
Antes de limpar o palato da criança, lembre-se de lavar as mãos com água limpa e sabão. Pingue soro fisiológico 0,9% nas narinas várias vezes ao dia. Use uma gaze macia envolvida no dedo, umedecida com soro fisiológico 0,9%, água fervida fria ou água filtrada, para realizar a higiene dos dentes e língua delicadamente³². Lembre-se sempre de que é necessário segurar os braços da criança. Veja no vídeo abaixo como realizar a limpeza pós cirurgia.
Fonte: Canal no YouTube do HRAC/Centrinho USP
Imobilização de membros superiores
O controle de sangramento é uma preocupação constante entre os cuidadores. As regiões anatômicas onde são realizadas as queiloplastias e palatoplastias são altamente vascularizadas, aumentando o risco de sangramentos. Muitas vezes, esses incidentes estão associados a pequenos acidentes, como brincadeiras com objetos que são levados à boca, esbarrões nas grades do berço ou até mesmo movimentos bruscos do cuidador. Em casos mais graves, pode ser necessária uma intervenção para estancar o sangue no hospital. Recomenda-se o uso de um cobertor, almofada e ou protetor de berço, uso de braceletes por 30 dias para evitar que a criança involuntariamente leve as mãos à boca durante o sono, causando traumas maiores na área cirúrgica e resultando em sangramento. É importante orientar os cuidadores a buscar assistência médica imediata diante de qualquer sinal de sangramento, devido às possíveis complicações³⁰'³².
Fonte: queiloplastia rinoplastia palatoplastia Cuidados pós-operatórios para pacientes operados. [s.l: s.n.].
Disponível em: <https://hrac.usp.br/wp-content/uploads/2017/04/manual_enfe_posop_queilo_rino_palato_hrac.pdf>. Acesso em: 09 set. 2024.
Fonte: SOBRAPAR. Todo bebê precisa ficar com o braço imobilizado pós a palatoplastia?
Disponível em: <https://sobrapar.org.br/2023/05/12/todo-bebe-precisa-ficar-com-o-braco-imobilizado-por-tala-apos-a-palatoplastia/>. Acesso em: 11 set. 2024.